quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

SÉRIE FILOSOFANDO SOBRE... A AMIZADE

É à luz desta doutrina da Amizade, que se compreende a possibilidade do preceito cristão do amor aos inimigos, como é à sua luz que se vê a diferença entre o amor aos inimigos e o amor aos amigos. Devemos amar a todos, mas não temos obrigação de ser amigos de todos. Porque, sendo a Amizade “amor livremente correspondido”, é impossível que sejamos obrigados a ser amigos daqueles que não correspondem ao nosso amor. Obrigá-los a corresponder ao nosso amor seria um contrasenso ainda maior, porque uma correspondência obrigada já não seria a correspondência essencial ao amor de amizade.


Aliás, o que ocorre com o preceito cristão do amor ao próximo, é o mesmo que ocorre com o amor de Deus para com os homens. Deus ama a todos os homens, mas não é amigo de todos, porque nem todos correspondem ao amor de Deus. Nem obriga Deus, fisicamente, a que todos o amem, porque isto seria destruir toda possibilidade de amizade, uma vez que a amizade é “amor livremente correspondido”.

O mistério da salvação eterna também se move em torno desta doutrina da Amizade. Porque salvar-se é conquistar eternamente a Amizade de Deus, como viver em graça, neste mundo, é estar em estado de amizade com Deus. Deus quer salvar a todos, mas uma vez que a salvação é a amizade de Deus e a “amizade é amor mútuo, amor livremente correspondido”, é evidente que somente se salvam os que correspondem ao amor de Deus. E como essa correspondência para a amizade só tem sentido se for espontânea e livre, é óbvio que Deus não vai salvar ninguém à força, pois seria pretender Amizade, destruindo ao mesmo tempo o que lhe é mais intrínseco, isto é, a livre correspondência do Amor.


Fonte: do Eterno e do Efêmero, Filosofia. Fernando de Barros Leal. Universidade Federal de Pernambuco – Imprensa Universitária – Recife – 1967

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