quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

SÉRIE FILOSOFANDO SOBRE... O AMOR PERFEITO


Uma prova magnífica de que a virgindade cristã não vale só por ser virgindade, está na parábola das Virgens Prudentes e das Virgens Loucas. Afinal de contas, as Virgens Loucas também eram virgens. E, no entanto, foram proibidas de entrar no banquete do reino de Deus. Logo, não basta a virgindade para que alguém realize o ideal da “virgindade cristã”, porque, no Cristianismo, ideal de virgindade significa não só virgindade, mas “amor virginal”.


O erro de esvaziar a virgindade cristã do seu conteúdo de amor, transformando-a numa mera qualidade material, fez também da virgindade um “estado sem amor”, associando, por isso, a idéia de virgindade a idéias de renúncia à vida e à alegria de viver. Mas este erro deita raízes ainda mais atrás e vem de outro erro mais grave e muito generalizado atualmente: o de confundir amor com sexo, de reduzir todo o amor a amor sexual, como se o Homem não fosse mais que um macho e a Mulher não fosse mais que uma fêmea. Evidentemente, no momento em que duas pessoas humanas não se possam pôr uma frente a outro senão como dois puros animais, desde esse momento, é claro que a virgindade será a negação do Amor. Mas se um Homem e uma Mulher, e, a fortiori, dois Homens ou duas Mulheres, podem pôr-se um frente ao outro como duas pessoas humanas, então o ideal da Virgindade passa a ser, entre eles, a garantia de uma forma mais alta e mais perfeita do amor.

O ideal da Virgindade tira a sua grandeza precisamente do fato de ser a virgindade a condição de um exercício mais exuberante do amor sentimental e afetivo do próximo, amor que é a realização do preceito essencial do Cristianismo, pois, segundo o Evangelho, quem ama o próximo, guarda toda a Lei. É o ideal da Virgindade que liberta o coração de compromissos físicos e materiais, deixando-o livre para correr e voar na atmosfera mais alta dos sentimentos e do puro afeto. A estupidez dos “dons juans” chama logo a um amor desse tipo de “amor platônico”. Mas o “Don Juan” é, precisamente, um dos responsáveis pela sexualização do amor, pela redução de todo o amor a amor sexual. Não é, porém, por ter “Don Juan” infeccionado todo o amor com sua obsessão sexual, que vai, por isso, ficar todo o amor necessariamente sexualizado. O amor virginal, que é o “amor perfeito”, que é o ideal cristão do amor, não é “amor platônico”, pelo fato de ser virginal. E isto porque, ao contrário do que pensa “Don Juan”, infinitas manifestações de amor sentimental e afetivo, muito concretas e muito mais reais não são, por natureza, manifestações de amor sexual, mas sim manifestações de amor humano, enquanto humano, isto é, enquanto consciente, espiritual e livre, pertencendo, portanto, com mais direito, ao amor perfeito e virginal, que é a forma de amor em que a consciência, a espiritualidade e a liberdade se conservam em todo o seu valor e plenitude.

Fonte: do Eterno e do Efêmero, Filosofia. Fernando de Barros Leal. Universidade Federal de Pernambuco – Imprensa Universitária – Recife – 1967

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