quinta-feira, 15 de abril de 2010

SÉRIE FILOSOFANDO SOBRE... A SATISFAÇÃO



Se bastasse ao homem, como basta às plantas, a realização de uma vida vegetativa, então o homem encontraria sua plena satisfação na segurança de bons jantares e o homem plenamente satisfeito seria o homem gordo! Se bastasse ao homem como basta aos animais, a realização de uma vida sensual, então o homem encontraria plena satisfação na segurança do prazer sensível e o homem plenamente satisfeito seria o Don Juan!

A experiência, porém, tem evidenciado que os maiores gastrônomos e os mais incorrigíveis “conquistadores” acabam mais insatisfeitos que no princípio, verificando, enfim, que com seus opíparos jantares e com seus amores animalizados, estiveram como as Danaides, a encher tonéis sem fundo...


Seria cômico, se não fosse trágico, a constatação diárias de pessoas, homens e mulheres, que pretendem achar uma plena satisfação humana em satisfações de ordem puramente vegetativa e animal e que, depois de “saturações” canibalescas, se sentem, em vez de plenamente satisfeitas, lançadas em um vazio psicológico que não raramente os leva ao desespero.

É que “as coisas são como são” e não como, algumas vezes, queremos caprichosamente que elas sejam. E a realidade é que o homem é algo mais do que uma planta e do que um animal. Satisfeita a planta e satisfeito o animal, resta muito a satisfazer para que se satisfaça o homem.

Como deveria, então, proceder o homem para encontrar uma satisfação total, isto é, uma satisfação propriamente humana? Deverá proceder conforme as leis que regem os fenômenos da vida nos diversos planos da vegetabilidade, da animalidade e da espiritualidade, planos estes sintetizados e unificados na complexidade da natureza humana.

Enquanto planta, tem o homem, naturalmente, de submeter-se às leis da nutrição e da reprodução. Enquanto animal, tem de se pela lei animal do prazer e da dor. Enquanto espírito, há de sujeitar-se à lei própria do espírito, que é a Lei da Finalidade.

Enfim, é a Lei da Finalidade que explica o próprio mistério da insatisfação permanente do coração humano, enquanto não se aquieta em Deus, conforme a experiência e a interpretação admirável de Santo Agostinho e de Pascal... porque a verdade insofismável é que o homem foi criado por Deus, a imagem de Deus e para Deus, e, portanto, sendo a união com Deus a finalidade última e suprema do homem, só na união com Deus se realiza plenamente a Lei da Finalidade Humana, donde só na união com Deus poder o homem encontrar aquela satisfação, que se chama FELICIDADE.

Fonte: do Eterno e do Efêmero, Filosofia. Fernando de Barros Leal. Universidade Federal de Pernambuco – Imprensa Universitária – Recife – 1967

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