segunda-feira, 21 de março de 2011

COMPREENDENDO O PECADOR (RICHARD WURMBRAND)

"Você sempre obedeceu à regra básica da igreja cristã de guardar a castidade por palavras, pensamentos e ações antes do casamento, e a fidelidade conjugal depois dele?"

De 300 presos, todos cristãos nominais, dois responderam sim. Um foi o virtuoso ancião Padre Suroianu, e o outro um rapazinho de quinze anos.

Sentamo-nos a comparar impressões. O General Stavrat disse: "À igreja tem de pensar de novo no assunto. Um exército não pode sair à guerra com ordens que ninguém obedece".

"Pregar o que ninguém pratica desvaloriza tudo quanto um padre tenha a dizer", observou Stancu, jornalista.

"Não podemos ir de encontro à Bíblia", objetou o Deão Novac.


"Certo que não", disse eu. "Mas conquanto não possamos chegar a um acordo a respeito do pecado, devemos ter maior compreensão do pecador. Nos tempos bíblicosLas mulheres usavam véu e vestidos que se pareciam com cobertas de tenda. O homem precisava ser um tarado para desencaminhar uma jovem. Hoje em dia as roupas que elas usam têm por objetivo atrair o sexo oposto, e as oportunidades para isso aparecem com abundância.

"Lembram-nos como Jesus tratou a mulher apanhada em adultério. Ninguém pôde atirar-lhe a primeira pedra. Os acusadores debandaram e Jesus perguntou: "Mulher, ninguém te condenou? Vai e não pesques mais".

O deão estava preocupado: "A mocidade hoje é tão licenciosa. Precisa de orientação".

Concordei, mas acrescentei: "Precisamos também ensinar que sexo é uma dádiva de Deus ao gênero humano. Temos de falar toda a verdade para excluir dele toda mancha de obscenidade. Há aí um que de divino. O mais antigo livro religioso do mundo, o "Maneva-Darma Sostra", diz: "A mulher é um altar em que o homem deposita, como sacrifício agradável a Deus, sua semente".

"A maioria de nós vê a mulher como parte de uma rotina", queixou-se Stancu. "Vemo-la assim como objeto de uso, de prazer, ou de uma boneca enfeitada que se tem para mostrar. Uma escrava para lavar e cozinhar, ou um ídolo em cujo o homem se perde. Ninguém parece considerá-la sua igual, mesmo nas relações sexuais".

"A coisa principal é o homem escolher uma companheira que o faça feliz", disse o deão.

"Ou vice-versa", sugeri. "Um dos homens mais felizes que conheci escolheu uma jovem desgraciosa da vila, porque julgava que ela não acharia nenhum outro que a quisesse em casamento".

"Que camarada romântico!" escarneceu Stancu. "O casamento não passa de um contrato. Quando meus pais encontraram uma moça fina com um dote razoável, a transação se fez. Temos vivido bem contentes, a nosso próprio modo".

"Então você absolutamente não está casado", disse eu - O sim foi trocado na igreja!

- Considero sem validez à vista de Deus o casamento feito por interesse material, mesmo que o Papa de Roma lhe dê sua bênção.

Stancu sorriu. "Então há por aí uma quantidade imensa de casamentos sem validade. Rapazes vendem-se a moças ricas, assim como moças pobres se vendem a homens ricos. Não é mais irracional a validez que se baseia em boa aparência, que não dura, do que a que se firma em sólido saldo bancário, que é durável?"

Respondi a Stancu narrando a história de uma moça cujos pais a fizeram casar com um cidadão rico. Depois de anos de infelicidade ela se enamorou de um costureiro, o que lhe fazia os vestidos, e foi morar com ele. Muitos membros da minha igreja não queriam nada com ela. Viver com um homem fora do matrimónio é pecado, mas eu procurei entender a situação dela. Seus pais, por meio de castigos e outras coisas forçaram-na àquele casamento. A melhor coisa a fazer era não desprezar aquela mulher, mas ajudá-la, encorajando-a a legalizar uma situação que era irreversível. Pedi ao meu pessoal que não a julgasse apressadamente.

"A moça veio agradecer-me, chorando. Eu disse que o fichário de membro da igreja não era igual ao fichário que Deus mantém no Céu. "Deus compreende, mesmo que não aprove, os sentimentos que levaram a senhora a lançar-se nos braços de outro homem. Deus continua amando-a". Ela abraçou-se ao meu pescoço e beijou-me, e nesse momento minha esposa foi entran­do".

Os outros rebentaram uma gargalhada.Stancu perguntou: "E como foi que o senhor explicou a ela a situação?"

"Não havia nada a explicar", disse eu. "A mulher viveu feliz com o costureiro e quando ele faleceu, anos depois, contei à minha esposa o que acontecera".

Julga-se que as penitenciárias estimulam o homossexualismo, mas não vimos nenhuma prova disso, talvez por causa das enfermidades, da exaustão e da aglomeração de detentos nas celas. O Professor Popp referia em tom de repulsa um ou dois casos suspeitos.

Eu dizia que devíamos condenar o pecado, mas procurar compreender esses homens não raro infelizes e perdoar-lhes as faltas, como fazíamos no caso de outras falhas humanas, e tentar saná-las. Muitos homens notáveis foram homossexuais -Alexandre, Adriano, Platão, Leonardo; e muitos manifestaram, no que realizaram, um profundo sentimento cristão, desde Sócrates - que foi chamado "cristão antes de Cristo"- até Miguel Angelo e, já em nossa própria época, Oscar Wilde e André Dunant, fundador da Cruz Vermelha Internacional.

"Sim, conheço a lista das coisas que lhes deram renome", disse Popp, "mas grande número deles, no teatro ou seja onde for, fazem gala desse problema seu e levam a público um caso que é um particular deles. Uma vez que a sociedade condena essa tendência, devem pelo menos usar um pouco de prudência".

Um rabino lembrou a palavra de conselho existente no livro de grande sabedoria prática, o Talmude: "Diz que se um rabino não pode dominar um impulso mau, deve ao menos evi­tar escândalo, cingir um véu e ir a outra cidade; e aí continue a pregar a lei".

Paul Cernei, um jovem que pertencera à Guarda de Ferro, estava deitado num leito próximo. Levantou-se e disse: "Vou expor aos senhores um problema enrascado, que me estragou a vida... Anos atrás encontrei uma moça - chamemo-la Jenny. Começamos a namorar. Ela nunca me deixou ir à sua casa. Afinal decidi pedi-la em casamento. Quando encontrei a casa e me apresentei, o pai saiu e foi dizendo: "Meu filho, Jenny já me disse tudo a seu respeito!" Olhei para ele horrorizado. Era um rabino, ostentando no peito a Estrela de Davi. Eu era anti-semita. Fiquei sem saber o que fazer. Disse, murmurando entre os dentes, que nunca fizera ideia de que Jenny fosse de família israelita, e fui embora".

Fez uma pausa. "Nunca mais vi a moça. E fiquei solteiro. Não podia esquecê-la. Ouvi dizer que ela também ainda está solteira".

Cernei contou essa história comovido. Stavrat ponderou:

"Quando você for libertado, pode não ser tarde demais..."

"Mas se nós tivéssemos casado", obtemperou Cernei, "quem ia mudar de religião? Eu sou ortodoxo e ela, judia".

Eu disse: "Ou a sua fé vale alguma coisa para você, e neste caso não pode trocá-la por nada no mundo, ou não vale coisa alguma, e então pode abandoná-la. Todavia, se vocês dois se amam, por que cada qual não fica com a religião que escolheu?" "Eu queria filhos", atalhou ele. "Tínhamos de criá-los numa ou noutra religião".

Fiz ver que os meninos, quando crescessem, Cernei e a esposa de per si podiam explicar-lhes suas crenças, e então deixar que eles escolhessem mais adiante a que desejassem. "Você podia fazer do amor que lhe votava um meio de trazê-la, com mansidão, à verdade".
Trecho do livro Nos Subterrâneos de Deus, do Rev. Richard Wurmbrand (1909-2001), fundador da Missão A Voz dos Mártires, que por ser cristão passou um total de quatorze anos nas prisões da Romênia, durante o governo comunista.

Visite o site da Missão A Voz dos Mártires: www.vozdosmartires.com.br/

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