segunda-feira, 22 de agosto de 2011

QUAL TEM SIDO A RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS EMPRESÁRIOS EM ITAPAJÉ?

A última década vem sendo marcada fortemente em todo o mundo, especialmente no Brasil, pelo foco em um fundamental conceito que, na nova visão de mercado, tornou-se conhecido como Responsabilidade Social. Essa perspectiva considera que somos responsáveis pelo bem-estar das pessoas, como também pela preservação da nossa história e do meio ambiente. O segmento empresarial do Brasil está tratando com maior seriedade o desenvolvimento de projetos sócio-ambientais, talvez por finalmente entender que a nova classe média brasileira, com mais de cem milhões de consumidores, está mais exigente e tem maior interesse em empresas que não somente lucram, mas que tenham algo substancial a contribuir para com a sociedade. É aí que indago: qual tem sido a contribuição dos empresários da nossa cidade para o bem-estar comum?


É fato e notório que Itapajé é uma cidade complexa, com muitos problemas a serem resolvidos, o que já afirmei em texto anterior. Mas qual tem sido a colaboração dos nossos industriais e comerciantes para o bem-estar da população, além de visarem à receita líquida dos seus estabelecimentos? Parece-me que pouco tem sido feito nesse aspecto. As entidades ligadas aos comerciários, por exemplo, visando o “fortalecimento da classe”, realizam palestras com empresários e funcionários que, na prática, terá como meta final a obtenção de maiores lucros. Empresas diversas têm estabelecido filiais em nossa cidade, apostando em um maior faturamento, já que nosso mercado está em evolução. A indústria aqui fixada, por exemplo, já tornou Itapajé em sua matriz nacional e, certamente, a questão financeira foi preponderante. Mas e a responsabilidade social? Com o comércio aquecido por inúmeros fatores de ordem local e nacional, surgem no município mais e mais empresas de móveis, veículos, combustíveis, vestuário, consumo, prestação de serviços, dentre tantas outras, mas não vemos quase que nenhuma iniciativa, no âmbito social ou ambiental, especialmente por parte dos grandes empresários que, pelo menos teoricamente, são os que mais lucram! A maioria não se acostumou sequer a espontaneamente entregar o cupom fiscal ao cliente no ato da compra e, se for solicitada nota fiscal, aí que o “boneco é grande”!

Algumas entidades e igrejas de Itapajé, diferentemente do setor empresarial, já avançaram muito na questão do amparo social. A Igreja Católica local já desenvolve há alguns anos um projeto de reciclagem, aonde emprega várias famílias, e agora iniciou um novo projeto voltado para viciados. A Assembléia de Deus, segundo informações, também tem idealizado um projeto de amparo a drogados, provavelmente inspirado no famoso Desafio Jovem, fundado por David Wilkerson em Nova Iorque. A Comunidade de Nova Vida, além do aconselhamento pastoral e da orientação espiritual, desenvolve projeto social semanal de corte de cabelo, ambulatório e distribuição do sopão para famílias carentes, além do bem sucedido projeto Felicidade Excessiva, que mensalmente visita a periferia e localidades do município, assistindo a população com diversos serviços e doações. Citamos somente alguns, mas certamente mais igrejas e entidades beneficentes do município têm desenvolvido outros projetos de caráter social. E onde está a colaboração dos nossos empresários? Será que imaginam que doar dez reais para uma equipe de feira cultural de um colégio é suficiente? Ou que doar algo para uma família necessitada que venha pedir ajuda em emissora de rádio é responsabilidade social? Ao que eu sei isso se chama “descargo de consciência”, ou até mesmo um ato sincero de caridade, uma ação básica do caráter humano, algo que deveria ser tão natural a cada um de nós que não poderia ser usado como mérito. Responsabilidade social não é caridade:

...Responsabilidade social é um conceito segundo o qual, as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo...” (Wikipédia)

Infelizmente vemos com tristeza que nossa classe empresarial local ainda está muito ligada a uma visão onde o capital, especificamente o lucro, é a única meta a ser alcançada, em oposição ao movimento global onde os empreendedores não buscam mais somente seus ganhos financeiros, mas também exercem suas responsabilidades para com o meio social. Um exemplo sério de responsabilidade social, dentre os grandes empresários locais, é o do senhor José Maria Melo, falecido em julho passado. Melo, mesmo tendo construído sua vida e patrimônio no Rio de Janeiro, não se esqueceu de contribuir socialmente com o lugar que nasceu, tendo erguido em uma ampla área o Jardim de Anita, hoje em fase de finalização, um complexo cultural-educacional que, dentro do previsto pelo idealizador, sediará um pólo de ensino superior, além de um mega teatro e, segundo informações, terá ainda uma espécie de bosque, que deverá ser uma das maiores áreas verdes da sede do município. Algum empresário local, lendo esse texto, poderá afirmar que não possui tantos recursos disponíveis para empreendimentos desse quilate; é verdade, entretanto, existem muitas outras formas de se trabalhar a responsabilidade social em nosso município, com poucos recursos e muita habilidade empreendedora. Escolinhas de esporte, programas de doação periódicos a pessoas carentes, cursos de capacitação para jovens, programas para a terceira idade, projetos ambientais, enfim, existem milhares de empreendedores no Brasil e no mundo inteiro, desde pequenas microempresas até grandes conglomerados, os quais não esperaram pelo poder público para desenvolver estratégias para o alcance do bem estar social.


SOBRAL: UMA PARCERIA BEM SUCEDIDA

Considero particularmente que um dos maiores e bem sucedidos exemplos de estratégia sócio-ambiental que deveria e pode ser adotado em Itapajé é o existente na cidade de Sobral, parceria de sucesso entre o poder público e as empresas. Sobral, segundo o Diário do Nordeste, é um dos seis municípios de maior arrecadação no Ceará, tendo arrecadado 2,2 milhões de reais do IPTU em 2010. Mesmo com uma boa receita municipal, ainda assim, é de lá que vem o Projeto Compromisso Verde, onde empresas, associações, ONGs, entidades em geral e até pessoas físicas podem adotar espaços públicos como praças, parques, jardins e canteiros centrais de avenidas. Empresas e organizações que participam do programa têm em contrapartida o direito à publicidade no local adotado, através de placas de divulgação padronizadas, além de ter o nome da empresa ligado ao projeto sócio-ambiental (veja a íntegra no link: Sobral Compromisso Verde).

Agora pense comigo: se Sobral, com uma alta arrecadação em relação à de Itapajé, teve êxito na participação da sociedade, especificamente de empresas, em um programa que visa restaurar e conservar as instalações públicas, especialmente áreas verdes, praças e canteiros, qual o impedimento de um projeto como esse ser também instalado e bem sucedido em Itapajé? Imagine se nossas poucas praças, áreas de lazer e monumentos públicos passassem a ser tratados com o mesmo cuidado e zelo que há entre os “adotantes” sobralenses? Imagine, por exemplo, se uma, duas ou três empresas em conjunto passassem a dar à Praça do Povão o tratamento que ela merece, sendo ela o ponto central da cidade?

Projeto sobralense visa que entidades e empresas adotem ambientes públicos:



Ao mesmo tempo em que têm faltado às últimas gestões do município o devido zelo com nossas áreas públicas, também têm faltado, por parte do empresariado, a devida consciência sobre o significado de responsabilidade social e ambiental, nos mais variados aspectos e possibilidades. Enquanto visa obter lucros crescentes com a economia ativa da cidade, aparentemente a maioria da classe empresarial fecha os olhos para tudo que represente investimento no bem estar da sociedade. Um olhar meramente capitalista.

Que Deus nos abençõe!

Um forte abraço,

Cesário C N Pinto.

Itapajé - Ce, 20 de Agosto de 2011.

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